A obra escolhida foi “Nous n’avons pas compris Descartes”, poesia digital de André Vallias. Ao observar a estrutura formal da composição, instantaneamente lembrei-me de uma cauda de avião. Esse meio de transporte é um dos maiores símbolos de velocidade e dinamicidade da sociedade atual, tanto no âmbito do transporte quanto no de intercâmbio cultura, já que foi o principal responsável pelo “encurtamento” das distâncias.
A malha quadriculada, plano cartesiano, e o próprio título evocam a figura de René Descartes, pai do racionalismo, e também de uma sociedade extremamente técnica, industrial, precisa. Porém, vale notar que as linhas da malha quadriculada não são totalmente retas, rígidas, o “tremor” do traçado sugeriria uma mão humana por trás do lápis? E qual o por quê do título “Não entendemos Descartes”? O racionalismo privilegia a razão em lugar da experiência sensível. Mas não seria a experiência a origem das deduções?
Por fim, a malha curvada evoca a curvatura do espaço proposta por Einstein. O físico desenvolveu a teoria da relatividade a partir da dedução. Sua teoria foi lançada em 1905, mas só pode ser confirmada pelas medições do eclipse solar de 1919. Einstein ajudou a construir o patrimônio científico de nossa sociedade através da dedução, da razão, mas nunca negou a porção humana necessária para esse processo: “A imaginação é mais importante que a ciência, porque a ciência é limitada, ao passo que a imaginação abrange o mundo inteiro”. Talvez a mão trêmula da obra seja Einstein unindo razão e sensibilidade, ciência e humanidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário